Para atravessar a atual conjuntura de autoritarismo e retirada de direitos, movimentos sociais do campo e da cidade convocam suas bases às ruas e à formação política, pela construção de estratégias coletivas de resistência e projetos-outros de poder. Nesta quarta, 6 de novembro, promovem um ato público em Aracaju em defesa da Agroecologia e do povo brasileiro.
Por Carú Dionísio
Por um “outro modo de viver, enraizado na rebeldia da ancestralidade”, movimentos sociais do campo e da cidade realizaram nesta terça, 5 de novembro, sua Plenária durante o XI Congresso Brasileiro de Agroecologia. A análise de conjuntura ficou a cargo de três companheiras: Dalva da Graça, da Frente Brasil Popular; Josi Costa, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e Mazé Morais, da Secretaria de Mulheres da CONTAG e Marcha das Margaridas.
Foto: Caru Dionísio
Compreender a essência da conjuntura atual e provocar os/as presentes a repensar e redefinir suas estratégias de mobilização e formação de base foram alguns dos pontos discutidos durante a atividade, que encheu e coloriu a Tenda Cacumbi com as bandeiras dos movimentos e com a arte e cultura do grupo teatral Raízes Nordestinas, que fez a mística de abertura.
“Não podemos ficar em análises superficiais do governo B. Ele não é um idiota, mas atende a um plano estratégico com a função de nos distrair”, analisou Dalva da Graça, da Frente Brasil Popular e do Movimento Organizado de Trabalhadores Urbanos. Para ela, o momento atual de avanço de autoritarismos e conservadorismos é de longo prazo e a esquerda precisa estar preparada para atravessá-lo. “Mas não vamos atravessar numa barca furada. A esquerda precisa preparar essa barca. E a força dessa barca é ideológica, com trabalho de base de formação política”, disse a militante. Ela reforçou também a importância de sujeitos diversos, como mulheres e pessoas LGBT, ocuparem espaços políticos e de poder, das direções de sindicatos e associações às cadeiras do legislativo e executivo.
Foto: Caru Dionísio
Josi Costa, do Movimento de Pequenos Agricultores, concordou com Dalva e acrescentou: “Precisamos discutir o que queremos para saúde, educação e alimentação. Além disso, enquanto tiver homofobia, machismo e racismo – que muitas vezes são reproduzidos dentro de nossos movimentos – não construiremos agroecologia nem soberania”, disse. Tecendo os fios entre o que queremos ou não para o país, está a Agroecologia. “E fazer Agroecologia é na rua”, disse Michela Calaça, do Movimento de Mulheres Camponesas, durante o debate. “Nossa tarefa é falar com nossas bases, mas também com professores e professoras, para que eles entendam a importância de vir também para a rua. Agroecologia não se faz só na academia”, pontuou.
Uma das maiores ações de rua de movimentos populares deste ano foi a Marcha das Margaridas, que trouxe 100 mil trabalhadoras de campo, da floresta, das águas e urbanas a Brasília para defender seu projeto de um Brasil soberano, popular, com democracia, Agroecologia e livre de violências. A Marcha das Margaridas foi a coroação de um processo de formação feito ao longo de meses com as bases, por meio de oficinas, seminários e encontros, resultando na construção de uma plataforma política articulada em 10 eixos, mostrando os quereres das Margaridas enquanto projeto de país. Mazé Morais, da Contag e coordenadora da Marcha, trouxe a plataforma das Margaridas como exemplo de construção coletiva de estratégias de resistência frente ao avanço do autoritarismo, do armamentismo e dos ataques aos povos do campo, da floresta e das águas, com retiradas de direitos da classe trabalhadora.
Durante o debate, Allan Tygel, da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida, compartilhou estratégias que o coletivo vem adotando para resistir à crescente liberação de venenos que assistimos neste ano: realizar formações em diversas regiões do país e denunciar internacionalmente o cenário de envenenamento da população e do meio ambiente brasileiros. Além disso, ele destacou os avanços em legislações municipais e estaduais de combate aos agrotóxicos, como a proibição da pulverização aérea no Ceará e a institucionalização de Florianópolis como Zona Livre de Agrotóxicos. “O agrotóxico é uma porta para falar sobre vários temas, como feminismo, alimentação, saúde”, disse Tygel.
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